Num dos quarteirões do Leblon, onde o metro quadrado é um dos mais valorizados do Rio, a descoberta de um tesouro arqueológico promete trazer novas informações sobre a história da ocupação do bairro.
As arqueólogas Jackeline de Macedo e Ana Cristina Sampaio trabalham desde fevereiro na área, onde até o ano passado funcionava uma lavanderia. A pesquisa começou a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) e da prefeitura, no processo de licenciamento para a construção de um prédio no local. Como o Leblon é Área de Preservação do Ambiente Cultural e a General Urquiza fica próxima à Rua Dias Ferreira — que, segundo historiadores, seria o caminho do Quilombo do Leblon — a pesquisa foi solicitada antes do início das obras no terreno.
— Começamos as escavações em fevereiro e logo achamos fragmentos de louças finas produzidas fora do Brasil, no século XIX. Isso estava de acordo com a história de povoamento do Leblon no século XIX, quando esse terreno foi adquirido pelo francês Charles Leblon.
Logo depois começamos a achar objetos mais antigos, que indicavam uma ocupação anterior — explica Jackeline, coordenadora da pesquisa arqueológica.
Um dos exemplos que ilustra a ocupação anterior é uma moeda portuguesa datada de 1700.
foto: Washington Fajardo |
Após o término das pesquisas, a área será liberada para a nova construção. As peças estão sendo levadas para o Iphan e parte delas poderá ser exposta em museus.
Outro marco de ocupação no século XVIII são os vestígios de um muro no terreno — pelas características, grandes pedras e uma espécie de argamassa com areia e conchas, tudo indica que seja uma construção do século XVIII. Provavelmente é parte de uma estrutura maior.
Alguns objetos indicam ainda que um dos bairros mais valorizados do Rio era uma área de difícil acesso nos séculos XVIII e XIX, como ossos e pedaços de vidro, moldados em formato de ferramentas.
Francês deu nome ao bairro
Um dos bairros cariocas mais conhecidos do país, por já ter servido como cenário de diferentes produções da TV, o Leblon foi oficialmente fundado em julho de 1919, pelo então prefeito do Distrito Federal, Carlos Sampaio. Antes disso, o bairro já era chamado pelo nome que carrega até hoje, herança do francês Charles Leblon, dono de umq chácara cuja área se estendia da Rua Visconde de Albuquerque até a Rua General Urquiza ,e da praia até a Rua Dias Ferreira.
Após adquirir as terras, por volta de 1845, Leblon criou uma empresa que fazia a exploração da pesca de baleia. Na época, o óleo extraído do mamífero era utilizado como combustível no sistema de iluminação pública e na construção civil. Antes da chegada de Charles Leblon, a região abrigava chácaras e casas populares, sobretudo de pescadores.
Em 1857, Charles Leblon vendeu suas terras para Francisco José Fialho, que, por sua vez, distribuiu os terrenos entre alguns compradores.