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variação do "Willow"?

O prato abaixo, fabricado pela Cerâmica Miranda Coelho (1954/1964), apresenta uma decoração feita com transferware azul cobalto com motivos orientais.



Se olharmos com mais atenção, veremos que na verdade trata-se parcialmente do padrão "Willow", ou "Azul Pombinho" como preferem aqui no Brasil, só que espelhado.



Está tudo lá: o palacete, a árvore com frutos redondos que alguns afirmam ser uma laranjeira, a grade em zigue-zague.

Curiosamente, ou mesmo, sintomaticamente, o "willow" (salgueiro) em si sumiu, bem como outro símbolo paradigmático do padrão: o casal de aves. Além destes, tudo o que está à esquerda do padrão "Willow", que seria a continuação da história, foi substituido por uma mulher de quimono GIGANTE, ao lado de uma cerejeira em flor, absolutamente desproporcional ao resto do motivo, como se fosse uma simples "colagem" de dois desenhos independentes em um único:



Para completar, um detalhe do motivo decorativo da borda do prato:



Existe um padrão inglês derivado do "Willow", que também é praticamente apenas um espelhamento do padrão mais famoso, chamado "Broseley", mas neste além do palacete estar muito ampliado, tornando-se praticamente o elemento principal do motivo, quase tudo mais do padrão "Willow" está lá, exceto pelo casal de aves:






Infelizmente não consegui descobrir ainda se o desenho impresso no prato do início deste post foi uma criação da Miranda Coelho, ou se foi importado.

A Miranda Coelho usava ao menos mais dois padrões orientais, também em transferware azul cobalto.

O primeiro, abaixo, eu só vi até hoje aplicado em xícaras, mas que não vejo razão para não ter sido usado em outras peças também. Este padrão não é como o anterior, uma variação do Willow, mas apresenta um salgueiro, que é um símbolo muito usado em decorações orientais legítimas, ou inspiradas no oriente.





Neste, além do salgueiro, há também uma mulher de quimono em meio a flores e folhagens, um monte, uma construção mais simples, e uma cerca entre a área da construção e do jardim onde está a mulher de quimono, e o fundo da cena.



O outro padrão apresenta a mulher de quimono no jardim, desta vez muito mais detalhado, com o monte ao fundo, mas me parece que não há aqui o salgueiro. A foto está muito ruim, pois foi obtida em um site de leilões. Há também uma construção, agora no alto, à direita. Não há a cerca do padrão anterior.



É interessante pensar se a razão de tantos padrões orientais usados por uma fábrica de portugueses e brasileiros, em plenas décadas de 1950 e 60 seria o reflexo do mercado. De fato há várias fábricas de louça e de porcelana neste mesmo período que usaram exaustivamente motivos orientais em suas decorações, mas sempre em decalques policrômicos.

O transferware azul, um tanto simples, quase tosco, talvez tenha sido uma maneira mais barata de tentar seguir uma moda vigente. Com algumas exceções de peças decoradas com decalques florais ou cenas românticas e filetes dourados, a maioria das peças Miranda Coelho já observadas apresentam decorações bastante simples, quase rudimentares, feitas por estanhola, sempre em azul cobalto, ou meros filetes de verniz colorido.

Estanhola, transferware e simples filetes são soluções bem mais baratas do que o uso de decalques e ouro, mas que parecem muito anacrônicas com o que acontecia em praticamente todas as demais fábricas da época. Estaria a Miranda Coelho presa a um modelo antigo, como uma inércia produtiva da fábrica, ou simplesmente visava um mercado mais popular (sua louça estava longe de ser uma das mais finas e bem acabadas...)? É algo ainda por se descobrir.

2 comentários:

  1. O monte ao fundo é sempre uma representação do Monte Fuji, uma constante na representação visual da cultura japonesa. Mas parece que o verdadeiro motivo "willow" NÃO tem o Monte Fuji ao fundo. O referido monte é presente nas obras que "evidenciam" o Japão. Usaram-no no século XX como usamos o Cristo Redentor como referência do Brasil. Coisa pra turista ou para exportação. Você não achaa mesma coisa?

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  2. Sim, certamente neste prato é o Monte Fuji, e o quimono da mulher está mais para Japão também. Mas o engraçado é que a parte esquerda da ilustração é do Willow, que é uma representação pseudo-chinesa. Pior do que uma cena "chinesa" inventada por ingleses, é esta fusão com elementos e personagens japoneses!!
    bjos

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